
Pela facilidade de seu plantio e cultivo, a cannabis se tornou popular entre diversos povos e regiões do planeta. Hoje, a planta tem entrado novamente na pauta de vários setores. O uso medicinal dos canabinoides tem ganho destaque pelo potencial de ação em diversas condições, em especial para as doenças neurológicas e, recentemente, pela aprovação legal de uso em alguns países.
Pensando neste contexto, a Força-Tarefa Alimentos Funcionais do International Life Sciences Institute Brasil (ILSI Brasil) realizou um webinar para tratar sobre as propriedades da cannabis para uso em medicamentos e alimentos. De acordo com o doutor em farmacologia, João Ernesto de Carvalho, atualmente, diversos estudos trazem comprovações científicas que demonstram que seus princípios ativos podem ser aplicados para diversos fins. “Os resultados dos estudos revelaram que, por exemplo, a cannabis pode ser utilizada no controle da ansiedade, distúrbio de sono, tratamento para esquizofrenia (THC), pacientes com câncer que fazem quimioterapia, para amenizar dores inflamatórias, bem como tratamento de epilepsia e convulsões (CBD), entre muitos outros”, afirma.
Nos últimos anos, muitos estudos clínicos têm dedicado esforços em pesquisas, principalmente, por ser um mercado de potencial crescimento, como, por exemplo, nos Estados Unidos e Canadá, se tornando um setor com alta perspectiva para negócio, abrangendo muito nichos de mercado. Entretanto, ainda necessita de um controle de qualidade, garantindo máxima eficácia terapêutica. Por isso é tão importante o investimento científico, para que seja feita uma regulamentação mais ampla para a produção de produtos como alimentos e desenvolvimento de tratamentos e medicamentos.
Usos da cannabis
O Dr. José Luiz da Costa, ressaltou que o mercado da cannabis tem movimentado valores bem atrativos para negócios, em países onde seu cultivo e comercialização são permitidos. Entre eles, além do extrato de canabidiol, a cannabis pode ser matéria prima para indústria têxtil, com confecção de roupas, sapatos, acessórios, entre outros objetos.
De acordo com um levantamento do Banco de Montreal, o mercado global de cannabis movimentou em 2018 cerca de US$ 18 bilhões. E ainda, de segundo a Instituição, esse valor chegará a US$ 194 bilhões até 2026. Isso se o número de países que liberarem o uso medicinal e recreativo da erva não aumente mais do que o previsto. Outro mercado gigantesco é o de uso veterinário, direcionado à tratamento de pets. Além disso, há alimentos à base de cannabis, substituindo o fumo pela ingestão (uso recreativo).
Uso da erva no Brasil
No país o assunto ainda é bastante polêmico, mas é possível observar notáveis avanços, principalmente, para o uso terapêutico. Grande parte dos pacientes que necessitam do produto à base de cannabis só conseguem acesso por meio da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Entre as exigências estão a comprovação por meio de prescrição, relatório médico e termo de responsabilidade, assinado tanto pelo médico quanto pelo paciente.
Dados da Anvisa relevam que as solicitações para importação também cresceram. Desde 2015, por exemplo, mais de 7.780 pacientes já tiveram essa permissão. As doenças mais citadas nos laudos médicos são epilepsia, autismo, dor crônica, Parkinson e transtornos de ansiedade.
Por enquanto, sem uma legislação que garanta o cultivo da cannabis para fins medicinais e a produção de medicamentos; os pacientes precisam recorrer a produtos importados, que não passam pelo crivo sanitário brasileiro.
Neste ano, o país ainda contou com uma novidade, que foi o desenvolvimento do primeiro extrato canabidiol, realizado por uma parceria entre a indústria farmacêutica e cientistas da FMRP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto) da USP (Universidade de São Paulo), que há décadas pesquisam possíveis aplicações farmacêuticas para compostos derivados da planta cannabis sativa. O produto foi liberado para comercialização pela Anvisa abril, e os primeiros lotes foram entregues ao mercado em maio. Entretanto, a venda só é permitida com receita médica; conforme já acontece com calmantes, bem como antidepressivos e outras substâncias psicoativas, que atuam sobre o sistema nervoso central.
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