
Tontura é um nome genérico dado a um grande grupo de sensações que podem ter causas muito diferentes e exigir tratamentos diferentes. É o que explica o médico neurologista Dr. Saulo Nardy Nader, que detalha, a seguir, os diferentes tipos de tontura e suas características.
O especialista ressalta que a tontura é um sintoma, não uma doença em si. “Existem diversas doenças que podem causar a tontura, e elas são incorretamente chamadas de labirintite. É necessário desvendar qual é a verdadeira condição por trás do sintoma para que o paciente tenha o tratamento adequado”, pontua ele.
Dr. Saulo destaca, ainda, que a tontura é uma sensação subjetiva, que varia muito de pessoa para pessoa. Ao contrário de outros sintomas mais fáceis de entender, como falta de ar ou dor no peito, por exemplo, a tontura é ampla, subjetiva e com múltiplas interpretações. “O atendimento a quem sofre de tontura exige habilidade, engajamento e experiência do profissional de saúde. Trata-se de uma área “artesanal”, onde a entrevista médica deve ser cuidadosamente conduzida, com escuta ativa, paciência e muita empatia”, diz.
É comum que as pessoas com tontura encontrem dificuldade em expressar o que sentem, independentemente da língua ou do grau de escolaridade — o que deve ser entendido como algo normal. “Não se sinta mal por isso; acontece com a maioria das pessoas. A missão de decifrar o que você sente é um trabalho conjunto”, afirma o médico.
Há ainda mais barreiras: por causa da má compreensão a respeito do tema, também é comum que pacientes com tonturas enfrentem preconceito. Muitos relatam ouvir com frequência frases como “é só uma labirintite” ou “isso é frescura”, de pessoas que tentam minimizar o problema. Essa realidade leva muitos pacientes a se isolarem por se sentirem incompreendidos, desacreditados ou constrangidos.
Tipos de tontura
Dr. Saulo Nardy Nader lembra que, na definição médica, a tontura é uma alteração da percepção de espaço, que se divide basicamente em cinco tipos listados a seguir.
Vertigem
É uma alteração da percepção de movimento, “como quando a pessoa olha para cima e sente que tudo está girando ou balançando, como em um navio ou um brinquedo”, diz Dr. Saulo. Esse tipo de tontura geralmente indica um problema no labirinto, no nervo do labirinto ou nas áreas cerebrais responsáveis pelo equilíbrio e pela coordenação. “Para se ter uma ideia, há pelo menos sete doenças do labirinto capazes de gerar vertigem. No nervo do labirinto, são pelo menos quatro. E, na área do cerebelo, há algumas dezenas de possíveis doenças”, explica o médico.
Tontura de origem clínica sistêmica
Nesse caso, a sensação é de atordoamento, fraqueza e mal-estar generalizado, como em gripe forte ou ressaca. As causas podem incluir infecções graves, intoxicações por remédios, álcool ou drogas ilícitas, anemia, hipotireoidismo e diabetes descontrolado, entre outras. “Vale a ressalva que sempre faço: tontura é sinal de alerta. Se você sente tontura de qualquer tipo, é bom procurar um médico. É seu corpo avisando que algo não está certo”, alerta Dr. Saulo.
Tontura de origem clínica cardiológica
A sensação é de quase desmaio, com sintomas como visão escurecida, atordoamento, suor excessivo e palpitações. Ocorre quando a pressão cai por algum motivo, levando a uma menor irrigação e oxigenação do cérebro. Essa sensação de quase desmaio ganha o nome de lipotimia, e pode ocorrer devido a problemas no coração ou no sistema cardiovascular, como arritmias ou doenças vasculares.
Desequilíbrio
Aqui, a sensação é de instabilidade nas pernas, com dificuldade para caminhar. “Os pacientes podem não sentir o chão muito bem, não ter firmeza nas pernas, ter a sensação de guinar para um dos lados enquanto caminham ou dificuldade para se manterem em linha reta”, detalha Dr. Saulo. As causas incluem problemas no cérebro, como AVC, mal de Parkinson ou esclerose múltipla, mas também problemas nos nervos das pernas ou condições ortopédicas, como artrite ou artrose avançadas.
Sensações cefálicas inespecíficas
São sensações vagas, como cabeça oca, flutuando ou fora do corpo. As causas são diversas e podem incluir a condição conhecida como tontura perceptual persistente. Esse tipo de caso pode ter, ainda, relação com transtornos psiquiátricos. “Doenças como depressão, ansiedade ou síndrome do pânico também podem estar por trás dos sintomas de tontura. Mas, na maior parte das vezes, o que vejo é o oposto: a tontura fragiliza tanto o emocional que acaba levando à ansiedade ou até mesmo depressão. Ou seja, a questão psiquiátrica muitas vezes é consequência, e não a causa da tontura”, comenta Dr. Saulo Nader.
Vale destacar que o padrão de manifestação da tontura é relevante. Saber o que a desencadeia, a duração e a frequência, assim como sintomas associados, ajuda no diagnóstico. Além disso, o exame neurológico é fundamental para avaliar as funções do corpo.
“A maioria das doenças que causam tontura tem tratamento, e a pessoa pode recuperar sua qualidade de vida”, ressalta Dr. Saulo Nader.
Fonte: Dr. Saulo Nardy Nader
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