
A Azia e má digestão são problemas bastante conhecidos pela população em geral. A má digestão, por exemplo, acomete entre 20% e 40% das pessoas, segundo dados da Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG). Já a azia, responde por 20% das queixas.
Aliás, a azia é um termo popular para pirose, que é a sensação de queimação na região retroesternal (no meio do tórax). “Às vezes, as pessoas também falam azia quando se referem à queimação na região epigástrica (localizada no abdome superior, que corresponderia à região do estômago). No entanto, a correlação maior é com a pirose”, explica a gastroenterologista e endoscopista, membro titular da FBG, Dra. Heltia Duarte de Sena Pinto.
Segundo ela, a principal causa de pirose é a Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE), quando o conteúdo gástrico, na maior parte das vezes ácido, sobe para o esôfago, causando o desconforto sentido como queimação. “Muitas vezes, acompanham a pirose, a regurgitação, que é a sensação de algo está retornando para o esôfago e/ou garganta, e a dor torácica. Quando há dor, é importante uma avaliação cardiológica para descartar causas cardíacas”, alerta.
Ela acrescenta que o tratamento da pirose se dá com mudanças no estilo de vida e uso de medicações para o controle dos sintomas e tratamento da doença de base. “Normalmente, quando as pessoas sentem a azia ou o desconforto pela má digestão, um dos primeiros aspectos que podem ser observados pelos especialistas da área da saúde é a alimentação dos acometidos. Dietas muito temperadas ou gordurosas, aliadas com bebidas alcoólicas ou cigarro, podem desencadear mal-estar gástrico”, comenta a farmacêutica responsável pela Farmácia Universitária da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP), Maria Aparecida Nicoletti.
Já a dispepsia, popularmente conhecida como má digestão, é a sensação de desconforto na parte superior do abdômen durante ou após as refeições, segundo a FBG. Ela acontece quando o estômago está sobrecarregado e se esvazia mais lentamente, ou ainda quando são ingeridos alimentos de difícil digestão.¹
Aliados e vilões
A boa alimentação auxilia na manutenção do equilíbrio da saúde gastrointestinal. O tratamento, tanto da azia quanto da prisão de ventre, baseia-se fundamentalmente em uma dieta saudável, rica em alimentos naturais e evitando o consumo de ultraprocessados. “A máxima do ‘descasque mais e desembale menos’ é ótima para ser aplicada em qualquer situação que envolva o trato gastrointestinal. Também não se pode esquecer da importância da atividade física, que auxilia tanto no controle do peso, como estimula o peristaltismo e facilita o bom funcionamento gastrointestinal, proporcionando bem-estar e boa saúde digestiva”, afirma a Dra. Heltia.
Ela explica que alguns alimentos têm ação irritativa sobre a mucosa do esôfago ou retardam o processo de digestão ou, ainda, prejudicam a função
de barreira do esfíncter inferior. “Esses alimentos são: café (pode-se consumir até duas a três xícaras pequenas ao dia); chá mate; chocolate; pimenta; alimentos gordurosos e frituras; alimentos muito condimentados e ultraprocessados; e bebidas gaseificadas (água com gás e refrigerantes).
Quanto às frutas cítricas, é interessante reduzir o consumo e dar preferência para comer a fruta in natura e mais doce em vez de suco, por exemplo”, diz.
A Dra. Heltia também pondera que as mudanças que comprovadamente têm maior impacto no controle da doença do refluxo e, consequentemente, em seus sintomas são: elevar a cabeceira da cama, especialmente se os sintomas forem mais noturnos; em caso de sobrepeso ou obesidade, perder peso; parar de fumar; comer devagar, mastigando bem os alimentos; e evitar beber líquidos junto com as refeições, o que auxilia no processo da digestão, diminuindo o volume possível de refluxo ácido do estômago para o esôfago.
Dicas do Gui
MIPs e outros fármacos para azia e má digestão
• Chás, como camomila, alecrim, chá verde, hortelã, boldo, entre outros, até os pós-efervescentes – normalmente associações contendo bicarbonato de sódio, carbonato de sódio e ácido cítrico, ou outros sais.
• Medicamentos contendo extratos compostos de origem vegetal (boldo, cáscara sagrada, ruibarbo, etc.) também podem ser efetivos.
• Como a acidez é uma produção excessiva de ácido clorídrico pelo estômago, alguns fármacos agem por neutralizar o excesso de acidez e outros agem por promover uma camada protetora sobre a mucosa.
• Medicamento fitoterápico que contenha espinheira-santa (Maytenus ilicifolia Mart. ex Reissek), que atua como reguladora das funções estomacais e promove a proteção da mucosa gástrica, poderá ajudar.
• Os antiácidos aumentam o pH gástrico, neutralizando, assim, o ácido clorídrico presente no estômago. São exemplos: sais de magnésio, sais de alumínio, bicarbonato de sódio ou carbonato de cálcio.
• Medicamento contendo alginato de sódio, que age por meio da flutuação sobre o conteúdo estomacal, impedindo o refluxo, proporcionando alívio aos sintomas de azia, regurgitação ácida e queimação
• Alerta: ao utilizar qualquer medicamento, há necessidade de se avaliar se o paciente é alérgico ou apresenta hipersensibilidade a qualquer componente do medicamento.
Fonte: farmacêutica responsável pela Farmácia Universitária da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP), Maria Aparecida Nicoletti
Estresse X Azia
Ansiedade e estresse em níveis elevados não são prejudiciais somente à saúde mental, mas também podem afetar o aparelho digestivo, uma vez que ambos podem estimular a produção de ácido no estômago.
Isso acontece porque o sistema digestório está intimamente relacionado com o sistema nervoso. Algumas pessoas podem desenvolver sintomas semelhantes aos da gastrite, por exemplo, por conta de quadros de ansiedade, sem que haja nenhum sinal de inflamação ou alterações no estômago. Essa condição é chamada de dispepsia funcional e os sintomas podem incluir azia, má digestão e desconforto na região do abdômen.²
Oito hábitos que podem provocar azia
1. Alimentos industrializados: ter uma alimentação baseada em alimentos industrializados, com adição de produtos químicos ou conservantes nocivos para o organismo.
2. Baixa ingestão de líquidos: não ingerir líquido no volume adequado. O indicado é uma média de dois a três litros de líquidos por dia, a depender das condições climáticas.
3. Exagerar no consumo de café: além de bebidas alcoólicas e outras excessivamente adoçadas, como refrigerantes, também podem ser prejudiciais.
4. Dieta pobre em fibras: ter uma alimentação com poucos grãos, verduras e legumes, frutas, farinhas e fontes integrais.
5. Longos períodos em jejum: passar de três horas de intervalo entre refeições.
6. Ingerir refeições muito volumosas.
7. Obesidade.
8. Ter vida atribulada e distúrbios emocionais.
Fonte: Hospital Edmundo Vasconcelos
Referências:
1. Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG). Disponível em: https://campanhas.fbg.org.br/saude-digestiva/. Acesso em: 11/09/2024.
2. Portal Drauzio Varella. Disponível em: drauziovarella.uol.com.br/alimentacao/estresse-e-ansiedade-podem-afetar-o-estomago-mas-nao-cau-sam-gastrite/. Acesso em: 11/09/2024.
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